O café da compaixão...
- Marcos Vinicius Pineda
- 1 de mai. de 2020
- 3 min de leitura

"Quero contar agora uma história que muitas pessoas que me conhecem pela internet já ouviram. Ficou conhecida como o vídeo do "cafezinho no aeroporto" e viralizou nas redes sociais. Nele eu conto um episódio que ocorreu no ano de 2015, quando Jeanine e eu estávamos no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, embarcando para uns dias de descanso em Londres. A menina que servia o café demorou cerca de dez minutos para vir perguntar o que queríamos, apesar de a minha mão estar levantada solicitando auxílio. Trouxe o cardápio com preços exorbitantes, jogou-o sobre a mesa com muito mau humor e saiu. - Eu fiquei chateado, mas queria tomar meu cafezinho logo e ir para a sala de embarque. Escolhemos o café mais barato, cerca de 14 reais, isso mesmo 14 reais por uma xícara de café. Levantei a mão novamente para a atendente vir anotar o pedido. Lá se foram mais dez minutos. De cara fechada e sem pronunciar uma palavra, veio até a nossa mesa, anotou o que queríamos e saiu. Mais alguns minutos de terror até ela trazer o café e, quando ela finalmente chegou a nossa mesa, soltou a bandeja com tanta agressividade que a xícara balançou e uns 4 reais daquele café que custava 14 transbordou e caiu no pires.
Jeanine, que costuma ser calma por temperamento, se irritou e disse: "Vamos chamar o gerente, agora basta!". Eu mantive a calma e, então, repliquei dizendo: "Amor, coloque-se no lugar dela. Estamos aqui embarcando para a Europa, graças a Deus com alguns euros no bolso. Ela está atrás de um balcão. Ela chegou às 5 da manhã aqui e limpa mesa por mesa. Enquanto ela trabalha, fica observando cada um com a sua malinha embarcando rumo a seus sonhos e projetos. Você não sabe se ela deixou um filho doente em casa e veio trabalhar; não temos ideia se ela apanhou de um marido violento nesta madrugada. Só vemos uma pessoa alterada e aparentemente mal-educada. Mas tem algo por trás disso. Se chamarmos o gerente, vamos acabar de vez com o dia dela em vez de salvá-lo". Foi então que, pela primeira vez, apliquei essa ferramenta com um bloqueador. Ela involuntariamente queria estragar o meu dia, mas eu tomei a decisão de melhorar o dela.
Levantei-me, fui até o balcão e pedi a conta. Quando ela me deu a notinha, segurei a mão dela e disse: "OBRIGADO!", dessa forma, bem enfática. Ao que, com sarcasmo, ela respondeu: "Obrigado pelo quê?", tirando a mão dela da minha. Eu continuei: "Obrigado porque, mesmo com problemas, pois tenho certeza de que você está atravessando um bem sério, você ainda assim decidiu sair de casa e vir servir as pessoas aqui. Mas eu quero dizer que o que você está passando é parte do seu caminho, não é o seu destino, vai melhorar". Deixei uma gorjeta generosa e sai. Como era de se esperar em meio a uma situação como esta, ela ficou petrificada, assimilando as minhas palavras e chorando bastante. O nome dessa ferramenta é COMPAIXÃO. Essa ferramenta é capaz de desarmar um bloqueador. A compaixão é uma ferramenta poderosa. "Mas, Tiago, de forma prática, o que é compaixão?", você pode questionar. Compaixão é a evolução da empatia. Empatia é você se colocar no lugar do outro; compaixão é sentir o que ele está sentindo e não com seguir ficar imóvel diante da situação. Entende?"
(Trecho Retirado do Livro Especialista em Pessoas – Tiago Brunet)
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